terça-feira, 2 de novembro de 2010

Bibliografia de Lygia Bojunga

  Corda Bamba, 1979 usa uma corda para entrar em uma casa estranha com muitas portas fechadas, do outro lado da rua, é na prática uma forma de curar a tristeza depois de ter perdido os seus pais numa morte inesperada. Em A Casa da Madrinha, 1987 percebemos depressa que as experiências fantásticas de Alexandre durante a sua busca pela casa longínqua de sua madrinha são na realidade a concretização das fantasias de felicidade e amparo de um menino da rua abandonado. É uma história que se aproxima do conto de Astrid Lindgren Sunnanäng. A fantasia psicológica de Bojunga emerge novamente nos contos com animais: quando o tatuzinho Vítor em O Sofá Estampado, 1980 se sente nervoso, começa a tossir e arranhar o sofá – até entrar um momento mais tarde nos seus tempos de infância. A Bolsa Amarela, 1976, são literalmente perfurados por um alfinete, e transformados em pipas de papel que voam para bem distante à mercê dos ventos. Angélica, 1975, incluiu uma peça de teatro completa. Não é sempre a história em si que é o mais importante nos seus livros, por vezes une-se um acontecimento ao outro em longas cadeias (como nas narrativas orais), onde o personagem principal poderá por vezes desaparecer do centro de atenção. A tônica está na própria narrativa, com os seus tons humorísticos e poéticos, e na sensação estranha de liberdade que brota quando tudo é possível. A forma refinada como Bojunga deixa cores expressarem emoções contribui fortemente para a extraordinária beleza dos seus livros. Esta expressão é talvez mais marcante em O Meu Amigo Pintor, 1978 (também transformado em peça teatral), que descreve como um personagem, um menino, tenta curar a sua tristeza pela morte de um pintor com a ajuda das cores. Um relógio é amarelo ao tocar as horas, para voltar a ser branco quando pára. Amarelo é a cor preferida de Bojunga, ligada à alegria da vida, tornou-se o tema predileto desde o seu primeiro livro Os Colegas, 1972. Seis Vezes Lucas, 1995, descreve, como na obra anterior, Tchau, 1984, a infidelidade, conflitos matrimoniais e divórcio do ponto de vista impotente – mas esperançoso – da criança. Bojunga entra sem medo no domínio dos adultos, na sua escolha de justificativas encostando-se com todo o direito à sua enorme capacidade de concretizar e personificar as sombras interiores em histórias fáceis de entender. Retratos de Carolina, 2002, domina o sério. Esta escritora fascinada pelo experimento tenta aqui novos caminhos. Em uma narrativa que se aproxima da formas do meta-romance, permite que o leitor siga o personagem principal desde a infância até à vida adulta. Deste modo, Bojunga rompe as fronteiras da literatura infanto-juvenil e preenche assim as ambições que enuncia no texto final e no prefácio do livro: dar lugar a si própria e às personagens que criou dentro duma só casa, "uma casa que eu inventei".
Os Colegas
– Rio de Janeiro: José Olympio, 1972
Angélica
– Ilustrações de Vilma Pasqualini. Rio de Janeiro: Livraria AGIR Editora, l975 A Bolsa Amarela – Ilustrações de Marie Louise Nery. Rio de Janeiro: Livraria AGIR Editora, 1976 A Casa da Madrinha – Ilustrações de Regina Yolanda. Rio de Janeiro: AGIR, 1978 Corda Bamba – Ilustrações de Regina Yolanda. Rio de Janeiro, RJ: Civilização Brasileira, l979 O Sofá Estampado – Ilustrações e diagramação de Elvira Vigna. Rio de Janeiro, RJ: Civilização Brasileira, 1980
Tchau
– São Paulo, SP: Livraria AGIR Editora, 1984 O Meu Amigo Pintor – Rio de Janeiro: José Olympio, 1987 Nós Três – 1987
Livro, um encontro com Lygia Bojunga
Fazendo Ana Paz – Rio de Janeiro, RJ: AGIR, 1991
– Rio de Janeiro, RJ: Livraria Agir Editora, 1988
Paisagem
– Rio de Janeiro, RJ: AGIR, 1992
Seis Vezes Lucas
O Abraço – 1995
Feito à Mão – Rio de Janeiro: AGIR, 1996
A Cama – Rio de Janeiro: AGIR, 1999
O Rio e eu – Ilustrações, Roberto Magalhães. São Paulo, SP, Brazil: Salamandra, 1999
– Ilustração da capa, Roger Mello. Ilustrações do miolo, Regina Yolanda. RJ: AGIR, 1995 Retratos de Carolina – Rio de Janeiro: Editora Casa Lygia Bojunga Ltda., 2002
O Pintor (teatro)
Nós Três (teatro) – 1989
– 1989
Obras em alemão
Die Freunde
– Aus dem brasilianischen Portug. von Karin Schreiner. Mit Zeichn. von Sabine Barth. Ravensburg: Ravensburger Buchverlag. (Lizenz des Verl. Dressler, Hamburg), 1994 (Os Colegas, 1972)
Angelika
– Aus dem brasilianischen Portug. von Karin Schreiner. Mit Zeichn. von Sabine Barth. Ravensburg: Ravensburger Buchverlag. (Lizenz des Verl. Dressler, Hamburg), 1994 (Angélica, 1975)
Die gelbe Tasche
– Aus dem brasilianischen Portug. von Karin Schreiner. Mit Zeichn. von Reinhard Michl. Ravensburg: Maier. (Lizenz des Dressler-Verlag), Hamburg, 1992 (A Bolsa Amarela, 1976)
Das Haus der Tante
– Aus dem brasilian. Portug. von Karin Schreiner. Mit Zeichn. von Reinhard Michl. Ravensburg: Maier. (Lizenz des Dressler-Verl., Hamburg), 1993 (A Casa da Madrinha, 1978)
Maria auf dem Seil
– Aus dem brasilianisch Portug. von Karin Schreiner. Ravensburg: Maier. (Lizenzausg. des Dressler-Verl., Hamburg), 1992 (Corda Bamba, l979)
Das geblümte Sofa
– Dt. von Karin Schreiner. Hamburg: Dressler, 1984 (O Sofá Estampado, 1980)
Tschau : 4 Erzählungen
– Dt. von Karin Schreiner. Hamburg: Dressler, 1986 (Tchau, 1984)
Mein Freund, der Maler
– Aus dem brasilianischen Portug. von Karin Schreiner. Ravensburg: Maier. (Lizenz des Dressler-Verl., Hamburg), 1993 (O Meu Amigo Pintor, 1987)
Wir drei
– Dt. von Karin Schreiner. Hamburg: Dressler, 1988 (Nós Três, 1987)
Obras em espanhol
Los amigos – Ilustr. de Ródez. Trad. de Irene Vasco. Bogotá: Grupo Ed. Norma Infantil-Juvenil, 2001
La bolsa amarilla
– Ilustr. de Esperanza Vallejo. Trad. de Elkin Obregón. Barcelona: Grupo Ed. Norma, 1997
Cuerda floja
– Trad. de Elkin Obregón. Ilustr. de Alejandro Ortiz. Barcelona: Grupo Ed. Norma, 1998
Chao!
– Trad. de Irene Vasco. Ilustr. de Ivar Da Coll. Bogotá: Grupo Ed. Norma, 2001
Mi amigo el pintor
– Trad. de María del Mar Ravassa. Ilustr. de Mónica Meira. Bogotá: Ed. Norma, 1989
Seis veces Lucas
– Ilustr. de Alejandro Ortiz. Trad. de Elkin Obregón. Barcelona: Grupo Ed. Norma, 1999
Obras em francês
La maison de la marraine –
Paris: Messidor/La Farandole, 1982 (A Casa da Madrinha, 1978)
La sacoche jaune
– Flammarion-Pere Castor, 1983 (A Bolsa Amarela, 1976)
La fille du cirque –
Flammarion, 1999 (Corda Bamba, l979)
Obras em inglês
The Companions
– Translated by Ellen Watson. Illustrated by Larry Wilkes. 1st ed. New York: Farrar Straus Giroux, 1989 (Os Colegas, 1972)
My friend the painter
–Translated by Giovanni Pontiero. 1st ed. San Diego : Harcourt Brace Jovanovich, 1991 (O Meu Amigo Pintor, 1987)
Obras em sueco
Alexander och påfågeln
– Översättning: Kajsa Pehrsson. Stockholm: Gidlund, 1983 (A Casa da Madrinha, l978)
Den gula väskan
Livros infantis e juvenis não traduzidos:
– Översättning: Karin Rosencrantz-Bergdahl. Stockholm: Rabén&Sjögren, 1984 (A Bolsa Amarela, 1976) Kompisarna – Översättning: Bo Ivander. Illustrationer av Sabine Barth. Bromma: Opal, 1986 (Os Colegas, 1972) Maria på slak lina – Översättning: Bo Ivander. Omslag och illustrationer: Reinhard Michl. Bromma: Opal, 1986 (Corda Bamba, l979) Min vän målaren – Översättning: Bo Ivander. Bromma: Opal, 1987 (O Meu Amigo Pintor, 1987) Den blommiga soffan – Översättning: Maj Herranz. Illustrationer av Sabine Barth. Bromma: Opal, 1989 (O Sofá Estampado, 1980)
Angélica
– Rio de Janeiro: AGIR, l975 Tchau – Rio de Janeiro: AGIR, 1984
Nós Três
– 1987 Seis Vezes Lucas – Rio de Janeiro, RJ : AGIR, 1995

Escritora brasileira, escreveu inicialmente os seus livros sob o nome Lygia Bojunga Nunes. Nasceu em Pelotas no dia 26 de agosto de 1932 e cresceu numa fazenda. Aos oito anos de idade foi para o Rio de Janeiro onde em 1951 se tornou atriz numa companhia de teatro que viajava pelo interior do Brasil. A predominância do analfabetismo que presenciou nessas viagens levou-a a fundar uma escola para crianças pobres do interior, que dirigiu durante cinco anos. Trabalhou durante muito tempo para o rádio e a televisão, antes de debutar como escritora de livros infantis em 1972.
Num continente que se tornou conhecido por seu realismo mágico e contos fantásticos, a literatura infantil brasileira caracteriza-se por uma acentuada transgressão dos limites entre a fantasia e a realidade. Lygia Bojunga é uma escritora que perpetuou esta tradição e a tornou perfeita. Para ela, o quotidiano está repleto de magia: onde brotam os desejos tão pesados que literalmente não é possível erguê-los, onde alfinetes e guarda-chuvas conversam tão obviamente como os peões e as bolas, onde animais vivem vidas tão variadas e vulneráveis como as pessoas. Imperceptivelmente, o concreto da realidade transforma-se noutra coisa, não num outro mundo, mas num mundo dentro do mundo dos sentidos, onde a linha entre o possível é tão difusa como fácil de ultrapassar. A tristeza vive com Bojunga juntamente com o conforto, a calma alegria com a estonteante aventura e no centro da fantasia da escrita está a criança, muitas vezes sozinha e abandonada, sempre sensível, sempre cheia de fantasias. A morte não é tabu, a desilusão também não, mas além da próxima esquina, espera a cura. Numa prosa lírica e marcante, pinta as suas imagens e não importa se a solidão é muito amarga, há sempre um sorriso que expressa uma compaixão com os mais pequenos, que nunca se torna sentimental.
Os textos de Bojunga baseiam-se fortemente na perspectiva da criança. Ela observa o mundo através dos olhos brincalhões da criança. Aqui é tudo possível: os seus personagens podem fantasiar um cavalo no qual cavalgam a galope ou desenhar uma porta numa parede, que atravessam no momento seguinte. As fantasias servem geralmente para ultrapassar experiências pessoais difíceis: quando a personagem principal em
O realismo mágico e perspicácia psicológica reúnem-se a uma paixão pelo social e pela democracia. Bojunga, que começou a escrever quando ainda dominava a ditadura no Brasil, dirigia atividades subversivas. Isto torna-se mais fácil em literatura infantil porque – nas palavras de Bojunga – os generais não lêem livros destinados às crianças. Nestes livros, encontram-se galos de briga com o cérebro costurado com arame e pavões com filtros de pensamento que se removem com um saca-rolhas. Os ventos da liberdade são fortes nos livros de Bojunga, onde a crítica contra a falta de igualdade entre os sexos é um tema recorrente. Mas Bojunga nunca dá sermões, o sério é sempre equilibrado pela brincadeira e o humor
absurdo. Os sonhos inflados de Raquel em
Bojunga (que costuma apresentar-se em público com monólogos dramáticos) tem o dom da narrativa oral que prende o leitor logo na primeira página. Também escreveu peças teatrais e gosta de usar descrições cênicas. Num dos seus livros,
Por vezes, Bojunga prefere ficar na realidade e mostrar então o seu olhar psicológico penetrante:
Como Hans Christian Andersen, com quem se aparenta claramente, Bojunga equilibra-se com perícia na linha entre o humor e o sério. No seu mais recente livro,
As obras de Bojunga estão traduzidas para várias línguas, entre as quais francês, alemão, espanhol, norueguês, sueco, hebraico, italiano, búlgaro, checo e islandês. Recebeu vários prêmios, entre eles, o Prêmio Jabuti (1973), o prestigiado Prêmio Hans Christian Andersen (1982) e o Prêmio da Literatura Rattenfänger (1986).
Obras em português

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